o iniciar seu discurso no julgamento de Adolf Eichmann (preso em Jerusalém, em 1961), o procurador do Estado de Israel Guideon Hansner declara: “Estou aqui hoje para falar em nome de seis milhões de judeus que não podem mais se manifestar”. A inauguração do primeiro Museu do Holocausto no Brasil representa uma sensação equivalente, ao ceder à palavra a todos aqueles que pereceram e os que sobreviveram à catástrofe do Shoá para contar um pouco de sua história à Curitiba.
A criação deste Museu, dedicado ao tema da perseguição aos judeus durante a Segunda Guerra Mundial, presta homenagem às vítimas e aos sobreviventes do Holocausto, bem como aos seus familiares e àqueles considerados “justos entre as nações”, pessoas que colaboraram para salvar a vida dos perseguidos.
Nesse sentido, a vocação educativa do museu é fundamental e tem como objetivo promover o debate sobre o preconceito ao longo da historia das civilizações, tomando como exemplo a questão judaica.
O programa museológico foi especialmente concebido, destacando os momentos históricos determinantes na política da Alemanha nazista que conduziram às campanhas antissemitas e que resultaram no estopim do extermínio dos judeus, denominado pelos nazistas de “solução final”.
O percurso expográfico tem como fio condutor o preconceito estabelecido ao longo das duas grandes guerras, desde os anos de 1920, com os antecedentes históricos da ascensão do nazi-fascismo na Europa até suas conseqüências no pós-guerra e as evidências persecutórias que perduram até hoje em diversos nichos da comunidade mundial. Imagens icônicas, produtos audiovisuais e pequenos objetos, pessoais e simbólicos, relacionados ao tema, apresentam histórias e fatos do genocídio, levando à reflexão dos riscos que a construção de preconceitos pode representar para a humanidade.
O trauma que aflige os sobreviventes do Holocausto pelo resto de suas vidas, se tem alguma razão de ser, que seja para que a humanidade aprenda a conviver melhor e a respeitar as diferenças de raça, cor, fé, ou posições políticas.
O Museu do Holocausto em Curitiba não cumpriria sua missão se não promovesse igualmente uma discussão abrangente sobre a questão do preconceito e da violência ao longo do século XX. O Holocausto é o exemplo extremo de como o preconceito pode levar à violência humana, em meio a tantos outros genocídios que ocorreram ao longo do século, os quais juntos somam cerca de 80 milhões de mortes.